Noel Nutels: o médico sanitarista que denunciou o genocídio dos povos indígenas do Brasil

Dezembro/2019

Por Cristiane d’Avila Lyra Almeida para o Café História

“A essa hora alguém está matando um índio. É a cobiça da terra, é a cobiça do subsolo, é a cobiça das riquezas naturais. É um vício de estrutura econômica. Enquanto terra for mercadoria e objeto de especulação vai se matar índio. A quem interessa o crime?”.

A provocação foi feita pelo médico sanitarista Noel Nutels (1913-1973) em depoimento à CPI do Índio, na Câmara dos Deputados, em Brasília, em dezembro de 1968.

Nutels é um personagem da saúde pública brasileira que notabilizou-se por rechaçar a naturalização do genocídio dos povos indígenas no Brasil. Judeu expulso de sua terra pela violência dos pogroms russos, Nutels, nascido na Ucrânia, negou-se a “fazer a América”, expressão em geral usada para se referir aos imigrantes europeus que desejavam fazer fortuna nos trópicos, no início do século XX. Preferiu engajar-se na causa social pela medicina. A saúde indígena foi a sua escolha, com destaque para a prevenção da tuberculose entre os povos originários do país, do Mato Grosso à Amazônia. Pelo feito, o escritor Orígenes Lessa romanceou a vida do médico e deu à obra o título que poderia nomear o alter-ego de Nutels: “O índio cor-de-rosa”.

O objetivo deste artigo é explicar quem foi Noel Nutels e porque seu trabalho é importante para se pensar a situação dos povos indígenas no Brasil contemporâneo.

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Leia em HCS-Manguinhos:

A saúde pública em tempos de burocratização: o caso do médico Noel Nutels, artigo de Carlos Henrique Assunção Paiva (v.10, n.3, set./dez. 2003)