Setembro/2013
Heloisa Villela | Nova York | Especial para o Viomundo Corporativismo e falta de conhecimento a respeito do sistema de saúde cubano são apenas alguns dos motivos para a reação de alguns médicos brasileiros à chegada dos colegas de Cuba, na visão da socióloga norte-americana Julie Feinsilver, estudiosa da diplomacia médica cubana. Ela é produto daquelas coisas bem paradoxais dos Estados Unidos. O país que ainda mantém o embargo a Cuba, tantas vezes tentou matar Fidel Castro e minar a revolução também produziu uma estudiosa dedicada a acompanhar a revolução da saúde em Cuba e a diplomacia médica que transformou a pequena ilha em uma potência sem comparação no planeta. Julie lançou, em 1993, o livro Healing the Masses (poderia ser traduzido para “Curando as Massas”) e mandou uma cópia para a então primeira dama Hillary Clinton que estava, naquele momento, encarregada de propor um novo modelo para o sistema de saúde dos Estados Unidos. Quem sabe Cuba poderia ensinar algo ao inimigo do norte? Claro que a socióloga nunca ouviu qualquer comentário da Casa Branca. Mas hoje o livro e os artigos de Julie Feinsilver são referência para quem quer estudar o assunto e até a Casa Branca deu sinal de vida. Julie já viu algumas citações de representantes do governo Obama pescadas do trabalho dela e até recebeu telefonemas de gente que trabalha no atual governo. Hoje ela conta, entre uma risada e outra, que o presidente Barack Obama foi procurado por vários líderes da América Central e da América do Sul durante a Cúpula das Américas, em 2009, com pedidos para que suspendesse o embargo a Cuba. Muitos citaram a diplomacia médica cubana como exemplo. Obama teria dito (imaginem!) que os Estados Unidos poderiam aprender algo com o que Cuba vem fazendo. Se hoje acha graça das reações a seu trabalho, Julie Feinsilver também lembra que a pesquisa teve momentos bastante difíceis. Ela foi vigiada pelo FBI e pela CIA, teve o telefone obviamente grampeado e mais de uma vez entrou em casa e percebeu uma coisa ou outra fora do lugar. Teve medo, sim, mas nunca largou o assunto pelo qual se interessou quando ainda era estudante. Antes de entrar na faculdade, Julie partiu para uma viagem de mochila nas costas, que começou pela América Latina. Conheceu vários países, navegou rios da Amazônia e ficou muito impressionada com as desigualdades dentro dos países e entre eles. Ela terminou a viagem em Praga onde, por acaso, comprou “A história me absolverá”, de Fidel Castro. Foi quando decidiu que a experiência de Cuba era algo interessante, que merecia ser estudado, principalmente levando em conta a realidade que acabara de conhecer. Dados que ela cita sobre o trabalho médico dos cubanos: 153 milhões de consultas em todo o mundo, sendo 47 milhões em visitas caseiras; 3,5 milhões de cirurgias, sendo 1,6 milhão oftalmológicas; 1 milhão de partos e 1 milhão de doses de vacinas aplicadas. Cerca de 30 mil estudantes recebendo treinamento em seus próprios países. Desde 1961, os cubanos trabalharam em 103 países, seja em serviços médicos duradouros ou por causa de desastres. Julie Feinsilver conhece bem o Brasil, foi consultora da Fiocruz e está acompanhando o bate-boca em torno do programa Mais Médicos. De Washington, onde mora, ela conversou conosco. Fonte: Viomundo
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Julie estudou os médicos cubanos: mortalidade infantil caiu 50%
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