Há 115 anos, epidemia de peste no Rio

Maio/2015

Ratices, charge publicada na revista Tagarela em 15 de setembro de 1904.

Em 21 de maio de 1900, há 115 anos, foi declarada uma epidemia de peste bubônica no Rio de Janeiro. Os primeiros casos foram observados em janeiro, principalmente entre moradores da zona portuária e trabalhadores de armazéns, ou seja, a população mais pobre da cidade.

De acordo com Matheus Alves Duarte da Silva, mestrando em História Social na USP que desenvolve pesquisa sobre as epidemias de peste bubônica no Brasil, ocorreram diversas epidemias de peste bubônica no Rio. Elas geralmente começavam em maio e terminavam em março do ano seguinte. Na epidemia de 1900, foram contabilizados 295 mortos. Na de 1901, 199; em 1902, 215; em 1903, 360; e em 1904, 275.

A charge intitulada ‘Novo Commercio Oswaldico’ foi publicada na revista Tagarela em 4 de agosto de 1904.

A doença, que viera da China para a América do Sul pelo Paraguai e a Argentina, chegou em Santos em outubro de 1899. Nesta emergência, o governo federal designou Oswaldo Cruz para verificar a etiologia da epidemia de Santos junto com Adolpho Lutz e Vital Brazil. Com a confirmação oficial de que tratava-se da peste bubônica, as autoridades sanitárias decidiram instituir laboratórios para produção de vacina e soro contra a peste: o Instituto Butantan, em São Paulo, e o Instituto Soroterápico Municipal no Rio de Janeiro, que mais tarde viria a se tornar a Fiocruz.

“A importância histórica dessas epidemias é grande também porque elas catalisaram a discussão sobre as quarentenas e sobre a necessidade de o governo federal intervir nos serviços sanitários municipais”, explica Duarte da Silva.

O pesquisador conta que, em 1903, para combater a peste, Oswaldo Cruz instituiu um prêmio por cada rato morto que fosse entregue ao governo, o que acabou gerando um estranho mercado. A imprensa da época não perdeu a piada, como se vê pelas charges aqui reproduzidas. A pesquisa “O baile dos ratos”: a construção sociotécnica da peste bubônica no Rio de Janeiro (1897-1906) é orientada pela professora Márcia Regina Barros da Silva e financiada pela Fapesp.

Seu Amaral, líder no comércio de ratos, teve problemas com a polícia. Clique para ampliar.

Leia em HCS-Manguinhos:

“Não é meu intuito estabelecer polêmica”: a chegada da peste ao Brasil, análise de uma controvérsia, 1899, artigo de Dilene Raimundo do Nascimento e Matheus Alves Duarte da Silva (vol.20, supl.1, nov 2013)

As epidemias nas notícias em Portugal: cólera, peste, tifo, gripe e varíola, 1854-1918. , artigo de Maria Antónia Pires de Almeida (vol.21, no.2, jun 2014)

Leia no blog de HCS-Manguinhos:

Grandes epidemias são tema de exposição em São Paulo
Mostra no Museu de Saúde Pública Emílio Ribas aborda adoecimento, prevenção, tratamento e cura e discute pesquisa, políticas públicas, campanhas e impactos sociais das doenças