Três décadas de politização na antropologia médica

Agosto/2014

A politização do debate antropológico na saúde através de três principais vertentes contemporâneas da antropologia médica – a crítica, a do sofrimento e a do biopoder – é o tema que a professora Mônica de Oliveira Nunes, do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia, discute no artigo Da aplicação à implicação na antropologia médica: leituras políticas, históricas e narrativas do mundo do adoecimento e da saúde, publicado nesta edição de História, Ciências, Saúde-Manguinhos (vol.21 n.2  abr./jun. 2014).

A primeira vertente, autodenominada “antropologia médica crítica”, se expande nos EUA nos anos 1980, quando alguns antropólogos passam a buscar explicação para as realidades de saúde e doença a partir da relação entre capitalismo e sociedade. Estes pesquisadores associam as relações de poder e as desigualdades sociais à produção das doenças, orientando-se a partir de uma economia política da saúde e enfocando as iniquidades responsáveis pela distribuição da morbidade e mortalidade.

A antropologia do sofrimento busca compreender o sofrimento social a partir de narrativas de realidades que afligem comunidades e as respostas dadas a elas. No final dos anos 1990, a expressão “sofrimento social” é lançada como categoria-chave para a análise de certas realidades sociais e problemas humanos como a guerra, a fome e a depressão e o modo que se responde a esses problemas. Para esta corrente, o reconhecimento do sofrimento é um passo fundamental para a sua compreensão e é preciso respeitar aquilo que inquieta as comunidades estudadas.

Já a antropologia do biopoder expande seu olhar ao campo das biociências e biotecnologias e relaciona conceitos de biopoder, biopolítica e biossocialidade, como na análise do fenômeno da “geneticização” da sociedade. No início dos anos 2000, um grupo de autores de países de capitalismo avançado se ocupa da reorientação das biotecnologias e do fenômeno da “geneticização” da sociedade, à medida que passam a ter efeitos sobre a vida cotidiana das pessoas, seja pela informação veiculada pela grande mídia, pelas implicações sociais do estabelecimento de perfis genéticos ou pelos dilemas morais provocados pela reprodução de plantas e animais híbridos, o que aventa a possibilidade de hibridação da própria espécie humana.

O artigo também discute o desenvolvimento da antropologia médica em diferentes países, buscando evidenciar as razões sociais e políticas locais pelas quais nasce, em cada país, uma antropologia voltada para o fenômeno do adoecimento.

Leia em HCS-Manguinhos:

Da aplicação à implicação na antropologia médica: leituras políticas, históricas e narrativas do mundo do adoecimento e da saúde – Artigo de Mônica de Oliveira Nunes (vol.21 n.2  abr./jun. 2014).

Como citar este post [ISO 690/2010]:
Três décadas de politização na antropologia médica. Blog de História, Ciências, Saúde – Manguinhos. [viewed 10 August 2014]. Available from: http://www.revistahcsm.coc.fiocruz.br/tres-decadas-de-politizacao-na-antropologia-medica/