Fevereiro/2021
Apesar da ampla informação disponível aos jovens a respeito dos modos de prevenção de doenças infectocontagiosas, dados do Ministério da Saúde mostram que eles são agentes ativos na expansão da sífilis, entre outras doenças. Qual a razão dessa situação contraditória? Segundo artigo publicado na atual edição da revista HCS-Manguinhos (v. 27, n. 4, out/dez 2020), uma das causas é a ruptura entre os conhecimentos adquiridos sobre saúde sexual e a orientação racional das práticas sexuais dos jovens rurais.
No artigo Juventude rural e vivências da sexualidade, Jesus Izquierdo, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal de Campina Grande, Paraíba, Assunção Lima, coordenadora do Mestrado Profissional de Sociologia em Rede Nacional (Profisocio), sediado na mesma universidade, e Valdonilson Barbosa dos Santos, professor do Profisocio, apresentam a pesquisa qualitativa que realizaram em Orobó, Pernambuco, com 27 estudantes com idades entre 15 e 29 anos.
“Concluímos na pesquisa que, na orientação de sua vida sexual, mais do que os conhecimentos adquiridos no universo acadêmico por onde transitam, prevalecem as crenças e valores adquiridos na comunidade rural durante a trajetória de vida desses jovens”, afirmam.
Em seus estudos, os pesquisadores observaram que as políticas de saúde adotadas nas zonas rurais de pequenos municípios do Brasil têm pouco impacto na população jovem. Segundo eles, fenômenos sociais como a gravidez precoce e o aumento de DSTs na população juvenil sinalizam que a falta de eficácia dessas políticas se deve ao processo através do qual foram formuladas, levando em conta questões genéricas, que envolvem a sociedade brasileira como um todo, mas desconsiderando as especificidades culturais daqueles jovens e a relação que o exercício da sexualidade tem com as questões morais que caracterizam os modos de vida das comunidades rurais.
“Observamos que, em relação à sexualidade, o silêncio prevalece em sala de aula. O conhecimento adquirido pelos jovens rurais ocorre no acesso que eles têm às novas tecnologias de informação e em conversas informais com colegas e amigos, nos debates que se desenrolam espontaneamente nos corredores ou nos espaços de convivência das instituições educativas. Enquanto nesses encontros casuais a sexualidade é debatida sem inibição, no âmbito familiar, no diálogo com os pais e parentes, esse tema é recalcado, elencado pelos jovens como o assunto sobre o qual ‘em casa não se pode falar’”.
Segundo os autores, as falas dos depoentes mostram que, na condução das experiências sexuais, prevalece a força coercitiva do saber tradicional. “Os espaços de socialização por onde os jovens rurais transitam se caracterizam pelo contraste entre a expansão e o recalque, entre a fluidez discursiva e o silêncio forçado”, concluem.
Leia em HCS-Manguinhos:
Juventude rural e vivências da sexualidade, artigo de Jesus Izquierdo, Assunção Lima e Valdonilson Barbosa dos Santos (v. 27, n. 4, out/dez 2020)