Maio/2017
O governo de Portugal, apesar de não ter apresentado um programa específico para a nanotecnologia, tem destinado significativos incentivos financeiros e institucionais para o seu desenvolvimento. A iniciativa de maior visibilidade e concentração de recursos foi a criação, em parceria com a Espanha, do International Iberian Nanotechnology Laboratory (INL). Situado na cidade de Braga, a instituição iniciou suas atividades in loco em 2011 e pode ser apontada como a principal materialização da política portuguesa para a área. A nanotecnologia é a capacidade técnica que permite compreender e manipular objetos em escala nanométrica, um bilhão de vezes menores que um metro (10-9m). Esse tem sido um campo fértil, não apenas para o desenvolvimento de inovações tecnológicas, devido aos importantes fenômenos e propriedades que se manifestam a partir de variáveis nessas dimensões, mas também para a análise e o debate sobre a governança de tecnologias emergentes. Da convergência de especialidades tecnológicas nessa escalada são esperadas, por um lado, admiráveis contribuições para a solução dos mais diversos desafios técnicos, desde a cura do câncer à conversão de energia solar. Por outro lado, a “nanoaturização” de materiais e dispositivos pode trazer implicações indesejáveis e/ou imprevistas para os seres humanos, como danos residuais para a saúde e para o meio ambiente devido à liberação de nanopartículas ou a utilização de dispositivos invisíveis a olho nu para fins militares ou de opressão. A nanotecnologia ocupa um lugar de destaque entre estratégias políticas de inovação. Nesse sentido, ela tem chamado atenção por ter servido como substrato para o desenvolvimento de um tipo de discurso político que se tem caracterizado pela articulação dos habituais termos “desenvolvimento, pesquisa ou inovação” com o adjetivo “responsável”, isto é, pela explicitação da preocupação em se considerarem tanto os aspectos positivos quanto os negativos, e evitar com que estes últimos se manifestem. Trata-se de um discurso institucional, veiculado, sobretudo, no contexto das políticas públicas de ciência e tecnologia de países centrais, que coloca ênfase na necessidade de garantir a emergência de novas tecnologias “que sejam seguras e realmente benéficas”. No artigo Pesquisa e desenvolvimento responsável? Traduzindo ausências a partir da nanotecnologia em Portugal, publicado na atual edição de HCS-Manguinhos (vol.24 no.1 jan./mar. 2017), os autores Paulo F.C. Fonseca, pós-doutorando do Departamento de Sociologia e Ciência Política da Universidade Federal de Santa Catarina, e Tiago Santos Pereira, pesquisador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Portugal, abordam como concepções de desenvolvimento ou inovação responsável têm sido discutidas e implementadas no contexto das políticas portuguesas de nanotecnologia. Leia em HCS-Manguinhos: Pesquisa e desenvolvimento responsável? Traduzindo ausências a partir da nanotecnologia em Portugal, artigo de Paulo F.C. Fonseca e Tiago Santos Pereira (vol.24 no.1 jan./mar. 2017)