A hipótese darwiniana da pangênese: apenas um equívoco?

Trecho de manuscrito de Darwin sobre pangênese. Fonte: http://darwin-online.org.uk

Em 1868, Darwin publica seu livro The variation of animals and plants under domestication, no qual expõe sua teoria da hereditariedade. Nela se encontrava o pressuposto de que o desenvolvimento era fundamental para compreensão do processo evolutivo.

No artigo Pangênese, genes, epigênese, os pesquisadores Fernanda Gonçalves Arcanjo, mestranda na Pós Graduação de História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e Edson Pereira Silva, professor e chefe do Laboratório de Genética Marinha e Evolução da Universidade Federal Fluminense, se empenham numa releitura da segunda teoria geral de Charles Darwin – a sua Hipótese Provisória da Pangênese.

Os autores defendem que a teoria da pangênese era coerente com as questões científicas e epistemológicas do seu tempo e apresentava diversas singularidades em relação às demais ideias sobre hereditariedade do século XIX. Mais que isso, a pangênese é interpretada como um audacioso projeto de Darwin para integrar a teoria evolutiva, a hereditariedade e o desenvolvimento num sistema único. Por que este suposto projeto darwiniano fracassou e a pangênese ficou conhecida como o grande erro de Darwin? A resposta para esta pergunta, segundo os autores, está na emergência nas primeiras luzes do século XX do modelo mendeliano como sistema explicativo da herança biológica.

Fernanda Arcanjo conta que a sua motivação para o estudo veio do seu inconformismo com uma história da ciência linear e que negligencia as contradições. “Acreditamos que a ciência se desenvolve de maneira dialética, então, para entendê-la, temos que estudar o seu motor, que são as contradições e, assim, explorar o poder criativo delas”, afirma. Já Edson Pereira Silva encontrou em Fernanda uma interlocutora para as questões ligadas a história da teoria evolutiva.
Os autores discutem ideias biológicas do século XIX que, depois de terem sido esquecidas e rejeitadas no século XX, recebem o flerte da epigenética e biologia evolutiva do desenvolvimento (Evo-devo) do século XXI.

Leia em HCS-Manguinhos:

Pangênese, genes, epigênese, artigo de Fernanda Gonçalves Arcanjo e Edson Pereira Silva (vol.24, n.3, jul./set. 2017)