‘Divulgação científica não é apenas transmitir conteúdos científicos a uma população supostamente leiga’

Haendel Gomes | Casa de Oswaldo Cruz / Museu da Vida/Fiocruz

Luisa Massarani

Pesquisadora da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), Luisa Massarani organizou a 13 ª Conferência Internacional de Comunicação Pública de Ciência e Tecnologia (PCST 2014), entre 5 e 8 de maio, em Salvador, na Bahia. Pela primeira vez, a PCST ocorreu numa cidade da América Latina. “É um fato histórico”, comemora a pesquisadora, graduada em comunicação social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), doutora na área de Gestão, Educação e Difusão em Biociências pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e com pós-doutorado na University College London.
Editora da seção de divulgação científica da revista História, Ciência e Saúde – Manguinhos, ela defende ser fundamental que as questões relacionadas à ciência e à tecnologia sejam acessíveis à sociedade. Luisa Massarani publicou 60 artigos científicos na área da divulgação científica, em revistas científicas nacionais e internacionais, é diretora-executiva da Red Po-Unesco, a rede de popularização da ciência e da tecnologia para a América Latina e o Caribe para o período 2014-2015. Atualmente trabalha no Núcleo de Estudos da Divulgação Científica do Museu da Vida, que chefiou entre 2009-2013. Luisa também liderou o grupo que criou o curso de Especialização em Divulgação da Ciência, da Tecnologia e da Saúde (lato sensu), oferecido pelo Museu da Vida (COC) em parceria com a Casa da Ciência/UFRJ, Fundação Cecierj, Museu de Astronomia e Ciências Afins e Jardim Botânico, no qual também orienta alunos de especialização. Além do Museu da Vida, também participa da organização do evento o Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo, da Universidade Estadual de Campinas (LABJOR/Unicamp).

O que pensa sobre ter uma cidade histórica como Salvador, e o Brasil como país latino-americano, na inédita organização da PCST? É um sinal de amadurecimento da divulgação científica e tecnológica no continente?
O próprio fato de um evento desta importância ser feito na América Latina é um fato histórico. A conferência, que é realizada desde 1988 a cada dois anos em um país diferente, já foi feita em quase todos os continentes. Justamente só faltava vir para a América Latina. E o evento chega pela primeira vez a nossa região em um momento de muita efervescência na área da divulgação científica, tanto no Brasil como em vários outros países da região. O evento, portanto, será uma oportunidade única não apenas para bebermos na fonte de vários dos melhores divulgadores da ciência mundiais como também para dar visibilidade ao trabalho que estamos fazendo por aqui. Salvador também é uma cidade muito especial, por suas características históricas e culturais. A cidade foi escolhida justamente pela sua capacidade de expressar um “Brasil bem brasileiro”, pela sua beleza e pela criatividade.
De que forma levar informação de C&T ao público não especializado pode ajudá-lo a mudar sua realidade?
A ciência e a tecnologia fazem parte do cotidiano da sociedade – e isto é particularmente verdade no mundo contemporâneo. Nossa comida, nossos remédios, a comunicação que estabelecemos são apenas alguns poucos exemplos disto. Portanto, é fundamental que as questões relacionadas à ciência e à tecnologia sejam acessíveis à sociedade (versus uma caixa preta), para podemos entender melhor o mundo que nos rodeia e participar, com conhecimento de causa, de várias discussões fundamentais.
Como experiências da comunicação pública e no uso de mídias sociais no oriente médio, por exemplo, podem nos ajudar a aumentar o interesse do público latino-americano pelo tema?
Em particular, o uso de mídias sociais tem tido um papel fundamental no Egito, como espaço de liberdade de expressão. A experiência que será trazida ao PCST 2014 – com Mohammed Yahia, que tem longa tradição em comunicação da ciência – portanto, traz um elemento mais politizado da divulgação científica. Divulgação científica não é apenas transmitir conteúdos científicos a uma população supostamente leiga. E é esta uma das ideias que queremos passar no evento, que tem como tema a divulgação científica e a inclusão social.
O que espera de resultado do evento para incrementar a comunicação pública em C&T no Brasil e na América Latina?
Experiências realizadas em outros países são muito interessantes para fomentar o diálogo e estimular a criatividade. E as conferências PCST são um espaço fantástico para isto. As conferências PCST também são formidáveis para estabelecer parcerias, conhecer oportunidades… E ter uma perspectiva da área mais global. Além disso, será uma ótima oportunidade para dar mais visibilidade para o trabalho que estamos fazendo – de forma bastante efervescente – na região. Nossa expectativa é que como resultado do evento mais parcerias sejam estabelecidas, em nível nacional, regional e internacional, e mais ideias sejam fomentadas.

Fonte: Agência de Notícias Ciência e Cultura/UFBA
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Veja a cobertura do evento na Agência de Notícias Ciência e Cultura/UFBA