Como eugenistas brasileiros reconfiguraram práticas após a Segunda Guerra Mundial?

Outubro/2023

Boletim de Eugenia, n. 39, 1932. Fonte: BN Digital. Clique para baixar o PDF.

A eugenia atingiu seu ápice no Brasil durante o período entreguerras, aglutinando tanto posicionamentos moderados quanto propostas radicais e racistas.

Dirigido pelo médico e farmacêutico Renato Ferraz Kehl e, a partir de 1932, pelos professores e geneticistas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) Octavio Domingues e Salvador de Toledo Piza Júnior, o periódico Boletim de Eugenia (1929-1933) veiculava a propaganda da eugenia com base mendeliana elaborada pela ala mais radical do movimento.

Mesmo após o fim do periódico, em 1933, os professores da Esalq continuaram a publicar sobre o tema.

Em artigo publicado na revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos, o historiador Guilherme Prado Roitberg questiona a ideia de que teses eugenistas teriam caído em desuso após 1945 e que a eugenia brasileira teria sido “suave” e dissociada do racismo científico. Como parte de seu doutorado na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar, Brasil), Roitberg pesquisou os vestígios do ideário da eugenia no contexto pós-1945 e produziu a análise Entre a divulgação científica e a eugenia tardia: rupturas e permanências na trajetória intelectual de Salvador de Toledo Piza Jr., 1898-1988 (HCS-Manguinhos v. 30, 2023). 

A partir da pesquisa documental sobre artigos, correspondências e anotações de Piza Júnior, Roitberg analisou a eugenia no contexto pós-1945. 

Segundo o pesquisador, após a Segunda Guerra Mundial, Piza Júnior renunciou à defesa pública da eugenia e passou a atuar como divulgador do evolucionismo darwinista em artigos, palestras e cursos ministrados no interior paulista. Por outro lado, manteve a concepção pautada na existência de diferentes “raças” ou “tipos étnicos” nos anos 1950, se correspondeu com sociedades eugenistas nos anos 1960 e sustentou a interpretação racializada e hierarquizada de evolução humana até o final dos anos 1980.

Leia na revista HCS-Manguinhos:

Entre a divulgação científica e a eugenia tardia: rupturas e permanências na trajetória intelectual de Salvador de Toledo Piza Jr., 1898-1988 (artigo de Guilherme Prado Roitberg, História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v. 30, 2023)

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Artigos discutem os vínculos da eugenia com eixos conceituais saúde/doença, normalidade/anormalidade e inclusão/exclusão, e revelam diversidade de metodologias e objetos de estudo (História, Ciências, Saúde – Manguinhos, vol.25, supl.1, ago. 2018) 

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Número especial discute a persistência de práticas eugênicas após a II Guerra e a desestruturação da eugenia como movimento organizado (História, Ciências, Saúde – Manguinhos, vol.23, supl.1, dez. 2016)