Junho/2013
Para o historiador e cientista político José Murilo de Carvalho, o povo brasileiro despertou de uma letargia que durava desde o impeachment de Collor e, sobretudo, desde o início do governo do PT. Diante do levante, políticos e governo estão perplexos.
Ele deu entrevista ao blog da revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos sobre as manifestações que estão ocorrendo pelo Brasil.
Quais as principais diferenças entre os protestos de agora e os de décadas atrás?
Em relação às diretas e impeachment, imprevisibilidade e multiplicidade de motivos.
Um “movimento” difuso, descentralizado, caracterizado por múltiplas causas e com diferentes formas de manifestação (pacífica X violenta) pode ser considerado um movimento ou está mais perto de uma catarse social?
Se quisermos precisão conceitual, seria uma manifestação popular, ou da classe média imprensada entre os grandes favorecidos da políticas econômica e social, os MUITO ricos e os MUITOS pobres.
Como o senhor avalia as reações dos governantes e das lideranças partidárias à emergência inesperada deste movimento, especialmente aqueles ligados ao PT que foi, no passado, vanguarda de muitas manifestações populares de rua?
Todos perplexos, como o resto do país. Governo e petistas constrangidos e desorientados, como seus acólitos, CUT, UNE etc. Presidente, orientada pelo marqueteiro, oportunista. Prefeitos e governadores acuados. Políticos em geral, com orelhas quentes, esperando a onda passar. Oposição em silêncio prudente e medroso.
É possível dimensionar a importância deste momento/movimento para a história do Brasil? O que deve mudar daqui para frente?
Pergunta para profeta. Qualquer avaliação agora será temerária.
O senhor acredita que o povo brasileiro esteja despertando para a cidadania?
Despertou de uma letargia que durava desde o impeachment de Collor e, sobretudo, desde o início do governo do PT.
O que espera dos protestos?
Resultados imediatos, só a revogação dos aumentos das passagens, mas já com ameaça de cortes não sabe onde (certamente não nas gorduras, isto é, mordomias, publicidade, excesso de cargos comissionados, altos salários), e talvez a derrota da PEC 37, a tal da impunidade. A queda de prestígio da presidente pode levá-la, com olho na eleição, a rever sua política econômica para maior controle da inflação. O desprestígio de partidos e políticos em geral (e agora também de organizações operárias e estudantis) continuará a ser combustível para próximas explosões.
Nota do blog: Confira o artigo Os bordados de João Cândido, de José Murilo de Carvalho
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