Na passagem do século XIX para XX, a lepra na África atraía a atenção dos missionários e médicos europeus. O missionário suíço Henri Junod, em sua etnografia sobre os povos tsonga, do sul de Moçambique, afirma que a lepra era considerada uma das duas doenças contagiosas mais temidas – a outra era a tuberculose. Ele percebe também que a visão ocidental e a local sobre as doenças eram bastante diferentes.
Segundo Junod, os tsonga acreditavam que as doenças eram comandadas por forças sobrenaturais. Os “médicos indígenas” (n’angas) não examinavam os sintomas físicos com práticas como auscultação, palpação ou exames de secreções, sangue, saliva ou urina, mas procuravam diagnosticar as causas das doenças por meio do jogo de ossículos: a posição em que os ossos caíam revelava a presença, as circunstâncias e as causas espirituais da doença. Os tratamentos seguiam caminhos diferentes de acordo com este diagnóstico.
Junod afirma que, embora a lepra fosse muito temida, os leprosos não eram segregados e viviam na aldeia com todos os outros habitantes, apesar de a ideia do contágio por contato não lhes ser estranha e haver cuidados específicos.
No artigo “Lepra: doença, isolamento e segregação no contexto colonial em Moçambique“, rofessor de História da Universidade Federal da Bahia, discute os distintos vieses das opiniões e propostas elaboradas por agentes da medicina ocidental da época, registradas em relatórios e documentos publicados pela Repartição de Saúde e o Arquivo Histórico de Moçambique.
Leia em HCS-Manguinhos:
Lepra: doença, isolamento e segregação no contexto colonial em Moçambique, artigo de ol.24, no.1 , jan./mar. 2017)
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