Da medicina à arte: a biblioteca particular de Oswaldo Cruz

Julho/2017

Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz

Se a máxima ‘você é o que você lê’ for verdadeira, um conjunto de mais de 2 mil obras sob a guarda da Biblioteca de História das Ciências e da Saúde da Fiocruz pode dar pistas sobre o perfil de um dos cientistas mais conhecidos do país, Oswaldo Cruz. Mais do que isso, a biblioteca particular do sanitarista – que traz de livros que abordam temas médicos a obras sobre fotografia e a 1ª Guerra Mundial – aponta para os possíveis interesses pessoais de seu o círculo familiar mais próximo. Portador de ideias e informações que circularam entre personagens importantes da história do Brasil em fins do século 19 e primeiras décadas do século 20, esse conjunto de obras raras está disponível para consulta na Fiocruz.

A biblioteca particular do sanitarista, preservada pela Fiocruz, contém obras com o conhecimento mais recente da época sobre febre amarela (foto: Jeferson Mendonça)

Publicadas em inglês, francês, espanhol, alemão e português, os itens trazem nas lombadas, contracapas e folhas de rosto elementos que atestam seu pertencimento à biblioteca de Oswaldo Cruz: a assinatura do cientista, carimbos institucionais, dedicatórias e o ex-libris – uma espécie de vinheta que identifica o proprietário de um livro – com sua célebre frase: fé eterna na ciência.
Nesse conjunto bibliográfico, que inclui obras significativas por si mesmas, mas também publicações relevantes em relação à trajetória profissional e intelectual de Oswaldo Cruz, três grandes grupos se destacam. O primeiro deles, marcado por títulos relacionados à vida profissional do cientista, traz livros de medicina em geral, microbiologia, medicina tropical, saúde pública e higiene. Um segundo conjunto significativo que também remete ao universo profissional é o dos manuais técnicos relacionados à prática laboratorial.
A coleção, entretanto, não se resume a ciência, abrigando um terceiro conjunto expressivo de obras que revela o inusitado: um leitor – ou leitores, uma vez que parte do acervo pode ter pertencido a seus familiares – interessado em um amplo espectro de assuntos, alguns dos quais curiosos, como linguagem indígena, automóveis e arte decorativa. Outros títulos nessa vertente de cultura mais ampla referem-se a literatura, poesia, música e história.

No centenário da morte do sanitarista, o portal da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) publica especial sobre sua biblioteca. Ao longo dos próximos meses, o conjunto bibliográfico será apresentado neste espaço a partir de cinco eixos temáticos diferentes, com imagens das obras e textos que tentam relacioná-las a trajetória do cientista que, com seus contemporâneos, enfrentou as epidemias de febre amarela, peste bubônica e varíola, que assolavam o Rio de Janeiro e o Brasil no início do século 20.

Leia mais:

Coleção Oswaldo Cruz: as obras sobre a febre amarela

Leia em HCS-Manguinhos:

Azevedo, Nara e Ferreira, Luiz Otávio. Os dilemas de uma tradição científica: ensino superior, ciência e saúde pública no Instituto Oswaldo Cruz, 1908-1953. Jun 2012, vol.19, no.2

Costa, Renato da Gama-Rosa and Sanglard, Gisele. Oswaldo Cruz e a lei de saúde pública na França. Jun 2006, vol.13, no.2

Cukierman, Henrique Luiz. Estegomiias em conserva e micróbios de vinha-d’alhos: o Brasil triunfa em Berlim. Fev 2001, vol.7, no.3