Junho/2016
A inclusão dos imigrantes haitianos nas políticas do sistema de saúde brasileiro é o tema do artigo que abre o dossiê O desafio da cooperação tripartite Brasil-Cuba-Haiti, publicado pela revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos em seu segundo número de 2016. A partir de perspectivas de diferentes campos, como as ciências sociais e a epidemiologia, quatro trabalhos abordam as relações entre os três países na área da saúde. A edição traz ainda 12 outros artigos de temas diversos, que vão de comunicação e saúde mental às reações ao pensamento sanitarista sobre o sertão no começo do século 20.
No contexto da onda migratória que trouxe um grande contingente de cidadãos haitianos ao Brasil a partir de 2010, o primeiro artigo analisa, a partir de um estudo etnográfico, como o Sistema Único de Saúde (SUS) respondeu à demanda inesperada desses novos usuários no Estado do Amazonas, por onde muitos deles chegaram ao País. Embora não tenham sido detectados obstáculos ao atendimento dos imigrantes, a autora aponta que a ausência de direcionamento e de articulação dos atores responsáveis pela execução das políticas públicas impediu uma melhor efetividade do acesso dos haitianos ao sistema de saúde.
Outro artigo detém-se sobre uma experiência de formação voltada a profissionais de saúde responsáveis pela vigilância epidemiológica e sistemas de informação em saúde no Haiti, levada a cabo no âmbito da cooperação tripartite. Também integra o dossiê um estudo sobre a participação da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em um projeto que visava à incorporação de tecnologias de saúde pelo Haiti. Implementada em 2010 para fortalecer o sistema de saúde e de vigilância epidemiológica do país após o terremoto, a cooperação tripartite também foi objeto de um estudo que descreveu práticas e perspectivas dos agentes nela envolvidos.
Esta edição traz ainda um artigo intitulado O sertão remediado: o embate entre a elite goiana e o pensamento sanitarista, 1910-1920, que aborda o repúdio local ao relatório elaborado por Arthur Neiva e Belisário Penna a partir de sua incursão pela região para diagnosticar o estado de saúde da população. O documento destacou, sobretudo, a disseminação da doença de Chagas. Este número também publica um estudo sobre práticas artísticas e culturais na atenção pública mental na região metropolitana de São Paulo. Ainda no campo da saúde mental, outro artigo analisa cartazes de divulgação do Dia Nacional da Luta Antimanicomial.
Integram a edição da revista trabalhos sobre a emergência da Aids no Amazonas; o combate à sífilis em Belém do Pará entre 1921 a 1924; as estatísticas da tuberculose na Colômbia; a assistência às famílias de doentes de lepra em Goiás; a epidemia de cólera-morbo de 1855 em Pernambuco; a incidência da hanseníase em Governador Valadares (MG) na década de 1980; estudos farmacêuticos durante o Segundo Império no México; a cooperação internacional em saúde na Fiocruz; além de uma análise das dez primeiras edições da Revista de Saúde Pública, publicada pela Universidade de São Paulo (USP).
Sobre a conjuntura política atual do País, a carta dos editores de História, Ciências, Saúde Manguinhos denunciam ataques à Constituição de 1988, com atropelos dos fundamentos que alicerçam o Estado democrático de direito e das conquistas sociais alicerçadas na Carta. Os editores alertam para as ameaças que o programa do governo provisório – a frente do País enquanto a presidenta Dilma Rousseff é julgada em um processo de impeachment – representam para a área da saúde, como a pretensão de desobrigar o governo de cumprir determinações constitucionais de investimento no público no setor.
Acesse o sumário da edição (vol. 23, n. 2, abr/jun 2016)
Leia os resumos desta edição:
Dossiê em HCS-Manguinhos aborda os desafios da cooperação tripartite Brasil – Cuba – Haiti
Quatro artigos descrevem e analisam parte dessa experiência nos campos da epidemiologia, gestão de recursos físicos e tecnológicos de saúde e outras dimensões biomédicas da cooperação internacional em saúde Sul-Sul
Há um século, o embate entre a elite goiana e os sanitaristas de Manguinhos
Artigo em HCS-Manguinhos enfoca a reação da revista A Informação Goiana ao relatório de Arthur Neiva e Belisário Penna, publicado em 1916
O “drama” da hanseníase em Governador Valadares
Pesquisadoras utilizam metáfora teatral para compreender as relações entre os “atores” inseridos no contexto da doença na década de 1980, quando foi introduzida a poliquimioterapia, terapia inovadora que mudou conceitos
A emergência da Aids no estado do Amazonas
Pesquisadores analisam o contexto histórico, social e político do surgimento da doença no fim da década de 1980 e como as respostas locais foram moldadas
Cooperação internacional em saúde: o caso da Fiocruz
Fortalecimento sustentável da componente pública dos sistemas nacionais de saúde requer reforço dos institutos nacionais de saúde, das escolas de saúde pública e de formação de pessoal técnico
O combate à sífilis em Belém nos anos 1920
Pesquisadores revelam embates entre médicos, a polícia civil e meretrizes, que resistiam às intervenções do Estado em seu ofício
Cólera-morbo: contágio ou infecção?
Artigo examina epidemia que atingiu Pernambuco em 1855, focalizando as controvérsias que dividiram as opiniões médicas
Uma cartografia sociológica da primeira década da Revista de Saúde Pública
Pesquisadores mapearam a produção acadêmica de 1967 a 1977
Arte, saúde mental e atenção pública ontem e hoje em SP
Estudo investiga como práticas usadas entre 1920 e 1990 influenciaram as práticas atuais de CAPs
‘Manuais de saber’ do iluminismo português
Artigo em HCS-Manguinhos aborda publicações feitas entre 1720 e 1800 de ampla circulação no mundo luso-brasileiro
Artigo analisa cartazes do Dia Nacional da Luta Antimanicomial
O slogan é o mesmo, mas as estratégias discursivas são diferentes
Leprosários e preventórios em Goiás: os filhos dos doentes de 1920 a 1962
Leicy Francisca da Silva analisa os discursos médicos e políticos da época